Ciana

 — Amélia, eu sou verde. Verde, minha irmã. Sou verde como as folhas que se balançam ao vento, como a luz irradiada pela nossa saúde e como o vômito que eclode do nosso ser.

— Vômito, Amália? Eca! Vômito? Por que vômito? Tu és azul, Amália. Azul. Azul como as águas que formam os mares, como a luz irradiada pela nossa calmaria e como as lágrimas que encharcam o teu olhar.

— Olhar, Amélia? Que olhar? O meu olhar? Não, não, minha irmã. Esse é o teu. É o olhar que sofre, porém resiste. O olhar de quem se permite ser conduzido pela sabedoria do ar. Eu, Amélia, sou verde. Sou verde como a fruta que ainda não amadureceu.

— Verde, Amália?

— Verde, verde, sim! Verde! Sou imatura, irmã, e não quero amadurecer. Quero viver. Viver, irmã! Viver como quem erra, como quem ainda vai amadurecer.

— Amadurecer, Amélia? Não, não, irmã. És azul. Azul como o sofrimento que silencia. Azul como o sofrimento que é silenciado. És azul, irmã! Azul!

— Não, Amália. Sou verde. Verde! Eu gosto de ser verde! Sou verde! Verde, minha irmã! Sou feliz em ser verde. O azul és tu, criança. Tu. És o sofrimento de quem já vai amadurecer.

— Mas eu não quero amadurecer!

— Agora é tarde, irmã. Já amadureceste! És branca como a folha que não foi escrita. És branca como o papel que já escreveu muito. És branca, irmã! Branca! E eu, verde. Profundamente e totalmente, verde.

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