Tempo, tempo, tempo, tempo!

A Lua, de Tarsila do Amaral.

 "Toda existência é grávida de tempo": ouvi isso recentemente ao passar pelo Facebook. Era uma mulher que dizia durante o trailer de sua série ou documentário, não lembro bem. Entretanto, a frase me marcou. Estatelei ao ouvir. Lembrei-me de "Força Estranha" na voz da saudosa Gal Costa, especialmente do trecho inicial: "Eu vi um menino correndo / Eu vi o tempo brincando ao redor / Do caminho daquele menino". São ditos simbólicos, especiais por carregarem, em letras, uma sabedoria extraordinária sobre o tempo, e eu sou alguém que pensa muito nele. Acho-o mágico.

As histórias das nossas vidas são como linhas que se entrelaçam com o passar dos dias. Relacionamentos improváveis são formados, e não apenas no campo amoroso, mas sobretudo no campo social. Amizades, inimizades, compadrios, consanguinidades e afinidades... Laços que, enquanto somos crianças, não imaginamos e não sabemos com quem vamos criar. São laços que se desenvolvem com os anos, e a nós, apenas, cabe esperar o entrelaçar.

É como se a vida fosse, em sua origem, apenas um objeto da mágica chamada "tempo". Nós o moldamos, é claro, mas o nosso moldar é antes moldado por ele, num complexo cósmico de difícil compreensão. Nossas escolhas refletem nas escolhas alheias, que, por sua vez, refletem em mais escolhas alheias, criando um complexo plantio geral que resultará em diversas colheitas interligadas e influenciará nas próximas plantações de todos os envolvidos... Difícil de explicar, mas é belo, é lindo, é singelo.

A minha vida não é apenas minha, mas de todos aqueles que minhas atitudes influenciam, e de todos aqueles que são influenciados pelas atitudes de quem eu influencio. A gravidez do tempo, tão profunda, é como uma gestação do futuro. Uma gestação de temporadas seguintes que envolverá também novos personagens, que, pela vez deles, darão prosseguimento autêntico e único ao tempo que lhes foi dado. Relações anteriormente construídas por seus antecessores darão espaço para as relações que eles irão construir ao longo da vida. E nós somos eles. Eu, especialmente, sou. E isso é mágico.

Também meu corpo está à mercê do tempo. Ou eu aproveito ele agora, ou me arrependerei de não tê-lo valorizado. O grande senhor Tempo modificará e já está modificando, e a carne que hoje carrego não é igual à que ontem carreguei, tampouco com a que amanhã terei. É uma realidade que está nas mãos do meu destino.

E, um dia, este meu tempo se findará, mas não em um velório temporal, e sim em uma gravidez dos que virão e dos que já estão, numa linha cruzada belíssima construída pela Vida, em constante transformação e formação. O tempo, assim, é um compositor de destinos e o tambor de todos os ritmos, como diz o nosso grande Caetano em sua canção "Oração ao Tempo". Pois, ele é um senhor lindo, como a cara que um dia será do meu filho. Peço, então, somente o prazer legítimo e o movimento preciso quando o tempo for propício para que seja, enfim, belíssimo!

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