Para aquela que trouxe a luz.

 Vovó,

Ontem conversava com minha tia, filha tua, e mais uma vez me lembrei da grandiosidade que foi a tua vida, e da ligação que tenho com a senhora, a ponto da nossa conexão superar a nossa falta de convivência.

Por teres partido em data próxima ao meu primeiro aniversário, nós nos vimos apenas uma única vez, enquanto já estavas adoentada. Quando tua matéria esmoreceu, deixaste de estar próxima a mim pela carne, mas, de certo modo, continuaste presente pela tua essência.

Cresci tendo-a como um anjo protetor, uma figura maternal que me acolhia e protegia nos momentos difíceis. Era uma imagem viva para mim, quase palpável, e inexplicável, pois ninguém nunca me fantasiou esta proximidade. Estavas tão viva para mim, que ainda hoje posso te ver como a via antes, trajada com um vestido branco, repleta de muita luz e tendo sempre um olhar de extremo amor e atenção a mim, teu último bisneto em vida, a criança que, em teu último dia, era o teu caçula. 

Nunca foste esquecida por mim e por minha família. Teu filho, meu avô, ainda hoje a ama profundamente, e esse teu menino, juntamente a minha mãe, sempre manteve tua memória viva em minha imaginação. Singularmente, o afeto das palavras memorialistas do vovô sempre me tocou imensamente. A afeição dele atinge um impacto que somente o mais profundo dos sentimentos pode alcançar.

Curiosamente, teu nome demonstra bem como a senhora viveu e como persiste na espiritualidade, pois "Lúcia" significa aquela que traz luz, a iluminada, que é exatamente o que dedicaste a transmitir. Penso que tenhas sido a causa inconsciente da minha devoção à Lúcia de Siracusa, sua santa onomástica, que, como a senhora, advém da bela Itália.

A tua arte, vovó, assim como a tua trajetória, me inspira. Tuas telas me cativam como nenhuma outra expressão artística, porque refletem um olhar sensível e profundamente reflexivo, onde as emoções transcendem a tinta. Suas pinturas estão marcadas por uma bagagem emocional profunda e experiências que somente a senhora possuiu.

A tua vida sempre foi muito difícil, da tua infância rodeada por segredos ao teu casamento conturbado e a tua velhice com adoecimentos físicos. No entanto, vó, a senhora nunca esmoreceu. Foste forte como somente um espírito adiantado poderia ser. Tiveste a resiliência que somente os grandes são capazes. E a tua fé vibrante na vida é característica de quem se iluminou. Por muito mais que isso, vovó, tornaste-se exemplo para toda a tua descendência. Conseguiste cumprir a maior missão de uma mãe: sensibilizar sua prole para a importância do servir e do amar. 

Foste, vovó, muito do que se deve admirar e honrar.

Tornaste-se sinônimo de fortaleza e de bondade.

Criaste um legado que somente os fortes criaram.

Fizeste, minha vó, o que apenas um coração amoroso pode fazer.

Eu te admiro profundamente, e te estimo imensamente. 

És viva em mim, e tenho certeza que de onde estás, abençoa-me.

Amo-te, vovó Lucinha.

Com profundo carinho,

Daquele que um dia foi o teu caçula.