Saudade do meu vô.
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Eu com minha irmã Alice e nosso bisavô Luciano. 16/03, casa da tia-avó Quinha, em Paulista. |
Hoje, dia 21, completa-se um mês do descanso do meu sempre amado bisavô Luciano. Sem dúvidas, é um dia triste para mim, mas não é sob revolta e lamentação que quero lembrar do meu vovô. Eu não vejo a morte como o fim de algo, nem como o início ou reinício, mas como a continuação da vida. O nosso nascimento terreno, visto como o princípio da nossa existência, é senão parte da infinidade, como o descanso físico também é. No entanto, não posso negar que a saudade e a tristeza pela distância são inevitáveis. O amor não morre com a ausência material do ser estimado, e como seres sociais que somos, queremos sempre ver os nossos parentes, bem como abraçá-los e conversarmos.
Inclusive, conversar era o que mais gostávamos de fazer quando nos víamos, e eu me sentia muito livre para ser sincero e aberto com meu avô. Ele sempre demonstrava me compreender e eu sentia que ele desejava que eu fizesse o que era melhor para mim, que vovô me queria muito feliz, acima de tudo. Nunca o vi me julgar por nada. Era carinhoso, bondoso e amoroso para comigo. Atencioso, especialmente. Me recebia sempre com um abraço, com a mão estendida para a benção, que vez ou outra eu esquecia de pedir, e me perguntando como eu estava. Era sempre uma alegria vê-lo, e eu fazia questão de demonstrar. Eu fui seu primeiro bisneto, dei um título que vovô nunca havia tido antes; fui seu Adamastor, e ele honrou sua posição sendo o melhor bisavô que eu poderia ter tido.
Assim como meu amor, também a minha admiração por meu vô Luciano é grande. Ele sofreu muito nesta vida. A sua orfandade foi precoce, sua infância foi dificultosa, sua pele era negra e a sua sociedade era racista. Mas vovô não permitiu tornar-se um amargurado. Era um homem feliz, alegre, festeiro, com muito amor no coração. Sua presença era marcante, e sua energia, contagiosa. Brincalhão, sorridente e animado são sinônimos do seu nome. Seus adjetivos próprios. Quem o conheceu, certamente nunca o esquecerá. Pessoas como vovô não são esquecidas, são reverenciadas pelo carinho das lembranças.
A doença que o levou foi repentina para mim. Seus últimos dias foram tortuosos para todos nós, e principalmente para ele. Entretanto, saber que vovô agora está livre da dor é um conforto. Foi triste vê-lo doente, ainda mais desesperador esperar por sua morte e profundamente perturbador me despedir dele, mas Deus sempre sabe o que faz e a sua sabedoria é infinitamente maior que a nossa. Sei que o Criador fez o melhor e que há tempo para tudo, como em uma viagem que fazemos e depois precisamos voltar, deixando muito do que nos faz feliz para encontrar muito do que também contribui para nossa felicidade.
O importante, acima de tudo, é o amor que deixamos no coração de cada um que passou por nosso caminho, e no caso dele, especialmente no daqueles que ele pôs ao mundo. Sem vovô, eu não existiria. Minha vida física iniciou na dele. Parte de mim é parte dele. Vovô não somente me passou sua carga genética, como também me deu muito do seu amor, e eu dei muito do meu amor a ele. Não houve uma única vez que o vi, que eu não disse o quanto o amava, e tenho certeza que ainda posso continuar dizendo, pois de onde está, ele ouve. Eu sei que ouve.
Impossível conter as lágrimas... A cada palavra, uma verdade, uma demonstração de um amor tão lindo. Desde seu nascimento ele sempre lhe amou muito. Que Sr. Luciano descanse em paz e que nunca seja esquecido, pois um ser humano como ele é raro de encontrar. Ele transbordava amor, cordialidade e alegria. Pra sempre🤍 Parabéns pelo texto, Felipe. É de uma emoção sem tamanho.
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